A chefe da carreira de Design em Comunicação Visual do Departamento de Publicidade e Imagem, a Dra. Ximena Rosselló Zeldis, recentemente obteve o grau de doutora após defender com máxima distinção a sua tese “Design Universal desde o Sul: Um caminho para a liberação de pessoas com diversidade funcional”, no Doutorado em Estudos Americanos, especialidade em Pensamento e Cultura. Sua pesquisa não abre somente um debate crítico sobre a aplicação do Design Universal na América latina, senão que também introduz um conceito emergente na disciplina, que busca situar a inclusão desde uma perspectiva profundamente humana e contextualizada: o Design Analético.
A origem de sua proposta remonta ao ano 2004, quando no marco de seus estudos de mestrado no Canadá (Universidade de Alberta) conheceu o conceito de Design Universal. Desde então, começou a observar suas aplicações no Chile, identificando falhas frequentes na implementação de medidas como o rebaixamento de calçadas, avisos táteis ou acessos diferenciados, que em vez de facilitar, geram novas barreiras. “Não se trata de colocar uma rampa ao lado de uma escada, senão de garantir igualdade de condições. Isso é o que muitas vezes é ignorado”, diz Rosselló.
Essas preocupações se aprofundaram durante sua pesquisa doutoral, ao estudar as leis de inclusão escolar no Chile e na Argentina. Aí identificou que, apesar dos discursos oficiais, a legislação costuma ser marcada por uma abordagem produtivista e desumano, que enfatiza o déficit em vez de reconhecer às pessoas em sua diversidade funcional. “O Design Universal tem se implementado de forma acrítica em nossa região, com fracos resultados, porque responde a contextos sociais e históricos diferentes aos nossos”, explica.
Diante deste cenário, sua pesquisa levanta a necessidade de ressignificar o Design Universal desde uma epistemologia crítica e com base nas Filosofias de Libertação latinoamericanas, capazes de situar e sustentar um olhar diferente. Dessa reflexão surge o Design Analético, conceito que cunha a partir da filosofia da alteridade e que entende a todas as pessoas como igualmente valiosas, com trajetórias, emoções e contextos que devem ser reconhecidos nos processos de design.
Essa nova abordagem é diferente do Design Universal no sentido que não está limitado à acessibilidade física ou regulamentar, senão que aborda a desumanização como o problema principal. “O design analético permite ver à pessoa completa, não só o rótulo de estudante neurodivergente ou de usuário diverso, e isso muda radicalmente como concebemos e ensinamos”, enfatiza a acadêmica.
A proposta já está sendo implementada na formação das e dos estudantes da carreira de Design em Comunicação Visual da Faculdade Tecnológica Usach, onde Rosselló promove novas metodologias de avaliação para avançar em direção de uma educação mais inclusiva. Essas metodologias incluem a auto-avaliação, o reconhecimento explícito do progresso, a valoração dos desafios superados e a incorporação da história pessoal do estudante como parte do processo de aprendizagem.
A partir destas experiências, a acadêmica projeta um trabalho conjunto com o Departamento de Inclusão e Direito à Diferença da Vice-reitoria de Qualidade de Vida Gênero, Equidade e Diversidade (VICAVIGED, por sua sigla em espanhol) de nossa Universidade, e com docentes de outras instituições educativas, interessadas em conhecer e aplicar essa abordagem no ensino do design. Entre suas ideias está o desenvolvimento de oficinas para compartilhar a metodologia com professoras e professores, e co-criar novas formas de avaliação que respondam às particularidades da disciplina. “O Design Analético não pode ficar na teoria: deve transformar-se em práticas concretas que cheguem às salas de aula, que permitam ensinar e aprender desde a pessoa completa”, afirma Rosselló.
O impacto dessa abordagem tem transcendido as salas de aula. A acadêmica expôs a palestra “Design Analético: Uma resposta ao desafio de avaliar estudantes neurodivergentes” no 5° seminário “Tecnologias e Metodologias Inovadoras Aplicadas ao Ensino do Design”, realizado na Universidade de La Serena, no segundo encontro anual da Rede de Escolas de Design Chilenas (ReDis). Além disso, expôs sobre a temática na terceira versão da Semana de Publicidade e Design (SPYD) 2025 organizado pelo Departamento de Publicidade e Imagem da faculdade, com a conferência “Tendências teórico-práticas da publicidade e o design”.
A acadêmica também participou no 10° Congresso Latinoamericano DiSur ”Design para a equidade na universidade pública latinoamericana”, que reuniu designers latinoamericanos na Faculdade de Artes e Design da Universidade de Cuyo, em Mendoza.
Com essa proposta, a Dra. Ximena Rosselló Zeldis projeta fortalecer a pesquisa e a difusão do Design Analético, gerando redes e colaborações com designers, acadêmicos e acadêmicas de diferentes universidades e espaços educativos no Chile e na América latina. Seu objetivo é consolidar essa nova abordagem como um aporte disciplinar que transforme o ensino do design e abra caminhos para uma prática mais inclusiva, humana e contextualizada.
