Revista de prestígio divulga estudo de acadêmico da Usach que detectou manipulação de dados nas eleições na Venezuela

Depois de publicar um artigo em um meio digital de nosso país no ano passado, o Dr. Andrés Navas Flores, do Departamento de Matemática e Ciência da Computação (DMCC), continuou com o desenvolvimento mais amplo de sua proposta que, após ser submetida à avaliação de pares acadêmicos, conseguiu ser publicada na Revista de Educación da Universidade Nacional de Córdoba.

Uma mão, em primeiro plano, introduz um papel dobrado na fenda de uma urna.

No primeiro dia de agosto de 2024, o jornal digital El Mostrador publicou um artigo de opinião assinado pelo acadêmico da Universidade de Santiago do Chile, Dr. Andrés Navas, intitulado “Autópsia matemática dos resultados de Maduro: 99,99999% de chance de fraude”.

O texto apresentava uma análise aritmética e probabilística que evidenciava, por meio de números, a manipulação das porcentagens ajustadas às quantidades de votos, indicando que esse exercício numérico nas eleições venezuelanas teria produzido um resultado grosseiro e rastreável.

Para isso, o Dr. Navas demonstrou que os dados oficiais eram suspeitosamente exatos, já que, em geral, as porcentagens de votos costumam ser aproximadas ou arredondadas. O acadêmico explicou em sua coluna que, em um universo de 10 milhões de votos, porcentagens exatas a uma casa decimal só ocorrem com múltiplos de dez mil. A probabilidade dessa coincidência é mínima, o que sugere manipulação de dados.

Como afirmou o pesquisador, o problema foi que, diante da pressa em divulgar a informação a poucos dias das eleições na Venezuela, ele não conferiu a publicação com seus pares. No entanto, ele foi desenvolvendo o trabalho nas semanas seguintes, até chegar a essa publicação.

Para saber um pouco mais sobre essa interessante análise, na perspectiva matemática para abordar situações do contexto social, conversamos com o proeminente professor do DMCC da Usach.

Professor Navas, sobre o que trata o artigo publicado na Argentina?

A publicação científica se chama "Resultados electorais e um exercício elemental de probabilidades". Trata-se de um desenvolvimento completo de uma coluna publicada no El Mostrador, na qual é feita uma observação clara e amplamente justificada: na primeira contagem de votos da eleição presidencial venezuelana de 2024, teria havido manipulação de dados. Agora, como para a publicação do El Mostrador não passou por revisão por pares acadêmicos, decidi dar continuidade e elaborar uma versão mais acadêmica, que posteriormente foi submetida à avaliação de pares em uma revista administrada por colegas da Argentina.

Como surgiu a oportunidade de publicar na Revista de Educación Matemática?

No momento de publicar a nota no jornal eletrônico, questionei-me muito, pois foi a primeira vez na minha carreira que, dadas as circunstâncias, precisei divulgar algo sem revisão por pares. É por isso que decidi dar continuidade à nota e torná-la mais acadêmica. Foi uma linda oportunidade de discussão com os conselheiros da revista, pois eles concordaram que se tratava de um caso atípico, pelo que passou por um processo duplo de revisão por pares. Primeiro, o comitê editorial fez observações muito pertinentes, pedindo que eu fizesse algumas modificações, as quais aceitei. Depois disso, o artigo foi submetido a um avaliador externo, que solicitou modificações adicionais.

Esse trabalho pode ser replicado nas próximas eleições presidenciais do Chile?

Acho que não, pois o Chile possui instituições sólidas desde o retorno à democracia. Existe um sistema eleitoral exemplar, pois pouquíssimos países no mundo conseguem disponibilizar quase 80% dos resultados apenas duas horas após do fechamentos das urnas, permitindo que possamos ir para a cama conhecendo a maioria dos vencedores, exceto alguns casos que são decididos voto a voto ou pela justiça em situações de empate técnico. No artigo, faço uma comparação entre dois sistemas. No Chile, transformamos os votos em porcentagens, apresentadas com duas casas decimais, pois, se fossem arredondadas para apenas uma, a contagem seria muito grosseira, podendo gerar erros na hora da comparação de votos. Estamos dizendo que, nas eleições, é possível escolher até um décimo de porcentagem, mas é muito difícil fazê-lo por um centésimo. Isso é o que levanta dúvidas sobre os números da Venezuela, que haviam sido apresentados com apenas uma casa decimal de precisão. Mas, além disso, os números não foram arredondados, o que, na perspectiva matemática, é muito estranho. Apresentei isso em meu artigo, mostrando que a probabilidade dos dados fornecidos não era veraz em 99,9999% no pior cenário da modelagem matemática possível.

Qual é a relevância deste artigo?

Dois dias após as eleições, eu já tinha feito essas observações, e, aos quatro dias, a nota já estava publicada na imprensa, na qual expus que, claramente, havia ocorrido manipulação dos dados. A história fala por si só depois. Nunca aconteceu a suposta correção dos números; os dados nunca foram fornecidos pelos canais institucionais que se comprometeram. Tudo indica que a eleição da Venezuela foi uma fraude.

Quero enfatizar que esta publicação foi feita em uma revista de educação matemática e não em uma revista de pesquisa matemática. Está escrita em linguagem pedagógica, voltada ao corpo docente. O objetivo é que este artigo constitua um documento útil para o mundo docente na hora de analisar, sob a perspectiva matemática, fatos de contingência e a própria realidade. Com isso, pretende-se avançar para uma mudança na imagem da matemática, para que ela deixe de ser percebida como uma disciplina tosca, técnica e árida, passando a ser vista como uma ciência extraordinariamente pertinente, capaz de fornecer construtos claros e rigorosos para analisar qualquer situação do domínio social.

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